Desde março de 2020 as reuniões que participo com outros professores, também de faculdades, têm se demonstrado cada vez mais chatas. Peço desculpas aos colegas de profissão, não é culpa individual de nenhum de nós, mas realmente nossas reuniões de trabalho são difíceis por natureza, mas fazendo o mesmo em vídeo-conferências parece que tudo ficou mais chato ainda.
Então, pensando que se aplicamos jogos para melhorar o aprendizado dos nossos alunos, porque não usarmos a mesma técnica para melhorar nossas reuniões. Encontrei um amigo pesquisador brasileiro na cidade de Delft, Holanda. Lá, ele realiza profundas investigações para o uso de técnicas de Simulações & Jogos na gestão pública. E eis que o que já é realidade na Europa também pode acontecer aqui. Mais uma vez, podemos aprender com o que se faz de melhor pelo mundo.
Em um artigo recém publicado, de autoria do Fernando Kleiman, Sebastiaan Meijer e Marijn Janssen, esse assunto foi tratado e apresentado com os argumentos que deveríamos considerar em nossas reuniões.
O Fernando e a Marijn são da Delft University of Technology e o Sebastiaan é do Royal Institute of Technology. Um atributo especial do Sebastiaan é que ele é o presidente da Associação Internacional de Simulações e Jogos (International Simulation and Game Association - ISAGA), que também sou membro há muitos anos e de onde a Teoria de Simulações e Jogos é disseminada por todo o mundo. Já foram mais de 50 congressos internacionais anuais que aconteceram em todos os continentes, cada ano em um país com um membro, sendo que o próximo congresso será na Índia (saiba mais nesse link). O líder desse congresso é o Dr. Vinod Dumblekar, que aplica e dissemina o uso dessa técnica por todo o seu país e colabora com inúmeros outros países da Ásia.
No artigo, uma série de jogos são citados como forma de introduzir essa técnica nas reuniões. Talvez não sejam a melhor opção para uma aula, mas sua aplicação pode ter impactos interessantes do ponto de vista de que contribuem para diminuir a sensação de isolamento que estamos passando. E, um ganho adicional para tudo isso é que aumenta a nossa percepção de pertencimento a um grupo, no nosso caso o grupo de professores de uma Instituição de Ensino - isso aumenta nossa produtividade e diminui, justamente o que mais sinto, a sensação de uma atividade chata e cansativa.
Os autores deixam muito claro que o uso de jogos em vídeo-conferências ainda é uma novidade, mesmo na Europa, e uma série de questões foram levantadas pelos professores para serem observadas e pensadas por nós mesmos e, talvez, sugeridas para futuras pesquisas:
"Como combinar jogos em chamadas de vídeo?
Em que estágio de uma chamada de vídeo os jogos devem ser usados?
Que nível de socialização é necessário?
Como garantir uma combinação saudável de várias formas interativas?
Quais tipos de jogos são adequados para socialização, aprendizagem e trabalho significativos?
Como usar jogos online para aprender e desenvolver novas habilidades?
Como as interações significativas e os jogos influenciam a eficácia do trabalho?
Qual é o impacto das interações e jogos significativos no isolamento, fadiga e depressão?
Qual infraestrutura é adequada para jogar com segurança para evitar vigilância e observação de comportamento?" (KLEIMAN, MEIJER, JANSSEN, 2020)
E, para isso somente a experimentação poderia nos dar uma luz que colaborasse no desenvolvimento de novas técnicas com suficiente embasamento científico para avançar ainda mais a Teoria de Simulações & Jogos que está em evolução liderada pela ISAGA.
Mas, para quem já me conhece, não pude deixar de ter orgulho em saber que há mais brasileiros engajados em fazer um mundo melhor usando jogos, afinal somos um povo feliz, mesmo confinados.
Saiba mais:
Referência: KLEIMAN F., MEIJER S., JANSSEN M. Gaming for Meaningful Interactions in Teleworking Lessons Learned during the COVID-19 Pandemic from Integrating Gaming in Virtual Meetings Acessado em 10 de setembro de 2020 no link https://dl.acm.org/doi/abs/10.1145/3416308
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