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Foto do escritorLuiz Antonio Titton

Recém-formados em Administração sabem administrar?

Após décadas ministrando aulas nos cursos de Administração venho notando que a cada ano os alunos têm menos propensão a usar matemática. E, isso vai muito além deste conhecimento chegando ao cúmulo de egressos não saberem montar um fluxo de caixa - a justificativa? Não estava lá para estudar, queria mesmo é namorar...

Então, para quê buscam estudar Administração?


Administradores prontos para recuperar empresas

Essa curiosidade foi além de uma locubração e busquei fontes que explicassem melhor esse problema. Em um site de uma Instituição de Ensino Superior, os cinco motivos para fazer um curso de Administração foram apontados (Unileão):

  1. É um curso de graduação multidisciplinar

  2. Depois de formado, é possível trabalhar em qualquer segmento

  3. É um ótimo caminho para quem deseja conquistar vagas em concursos públicos

  4. Permite desenvolver diversas habilidades valorizadas no mercado

  5. É o curso certo para quem deseja se tornar um empreendedor

Observando cada motivo, a preocupação fica mais evidente. O ingressante no curso não tem um propósito claro:

  1. Ao buscar algo multidisciplinar, o jovem mostra que não tem um interesse específico nas funções do Administrador (planejar, controlar, dirigir, organizar).

  2. Ao poder trabalhar em qualquer segmento é mais um indicativo de que não tem um interesse específico - talvez já esteja escolhendo algo que não seja uma escolha por uma atividade profissional delimitada.

  3. Ao pensar em usar o curso para facilitar concursos públicos é outra indicação de que o objetivo não é o de atuar nas funções do Administrador (já citadas).

  4. É genérico ao afirmar que permite desenvolver habilidades valorizadas pelo mercado, mas não diz qual a não ser o de saber algo sobre administrar, sem foco em um setor econômico.

  5. Discordo totalmente de que o curso de Administrador seja um curso certo para quem deseja se tornar um empreendedor - os cursos são voltados para técnicas de Administração, não para o Empreendedorismo.

Nos quatro primeiros motivos indicados, vê-se claramente que o motivo que é aventado como motivador para o aluno escolher o curso de Administração não são diretamente relacionados com a Administração em si.

E, na afirmação de que o curso de Administração é certo para tornar-se empreendedor, tomo as palavras do primeiro diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Prof. Dr. Marcos Cortez Campomar que, em seu último discurso de formatura da X Turma (se não me engano), afirmou estar frustrado que ao longo dos 10 anos que esteve à frente da FEARP não viu nenhum aluno sair com um negócio próprio. Na verdade, eu vi alguns raros que iniciaram negócios - todos negócios tradicionais e sem grandes indicações de terem se caracterizado como empreendedores de sucesso no critério de projeção além do mercado local.

Por conhecer profundamente o curso de Administração posso afirmar que a esmagadora maioria das disciplinas são técnicas desta área e, quando existem, disciplinas direcionadas para o desenvolvimento de empreendedorismo, são ministradas teoricamente, com pouca profundidade e desconectadas do mundo inovador.

Na minha vivência dentro do SUPERA Parque Tecnológico, como CEO de uma startup acelerada e incubada naquela incubadora, pude notar que a maioria dos Administradores do ecossistema eram os concursados que trabalham na autarquia - entre os incubados eram raros os administradores.

Essa incubadora é ligada à USP e fica no seu campus de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, e tem muitas facilidades que propiciam que muitas startups possam se desenvolver. A grande maioria destas startups atua com inovação com base tecnológica vindas de outras áreas que não são a Administração. E, por conta disso a complementação de formação para as startups tem como um dos focos o ensino de técnicas de Administração, mas sempre voltada para a inovação que estas startups já estão envolvidas.

Fica caracterizado então o problema de que os recém-formados não têm o espírito empreendedor minimamente listados nas competências definidas pela OCDE, a qual o Brasil deixou de poder aspirar a pertencer em razão do novo Governo Democrático restaurado a partir de 2023, inclusive deixando de ser um parceiro chave da Organização. Apenas recordando que nesta instituição cerca de 50 países fazem parte e seu foco é no desenvolvimento da Educação Empreendedora como forma de desenvolvimento dos países membros. Possuem a melhor modelagem de competências para formação de futuros empreendedores, que vem sendo desenvolvido ao longo de décadas.


empreendedorismo e IDH

Neste mapa pode-se observar que a relação entre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a conexão com a OCDE é visível: países que atuam nesta linha de ação pertencem à OCDE.

Mas, então o que se aprende no curso de Administração?

Uma das críticas mais determinante que faço para o curso de Administração é que ele não tem um foco voltado para o trabalho. O curso é focado em técnicas e usa como exemplos mais comuns nos Estudos de Caso justamente grandes empresas internacionais e raramente as nacionais. Ou seja, situações em que a empresa já tem algum mercado ou está com dificuldades no momento. Poucos professores realmente trazem casos que possam ajudar na formação do Administrador como algo ligado a um propósito de vida dos alunos.

Desde que entrei no curso de Administração (em 1978) até hoje, nunca ouvi falar, por exemplo, de Luis Barsi. Esta figura lendária no Mercado de Capitais fez uma fortuna investindo em ações ao longo de décadas, sendo que meu primeiro contato com ele foi no início de 1980, quando já era famoso e eu atuei na Bolsa de Valores de São Paulo (atual B3). Sua estratégia de investimentos já era famosa naquela época e mesmo nas disciplinas específicas de Mercado de Capitais, seu nome jamais foi ventilado nem mesmo como algum exemplo. Hoje é o maior investidor pessoa-física do mercado de capitais.

Então, o curso não apresenta nossos grandes empresários, exceto alguns históricos e, mesmo assim, com muita distorção sobre a realidade dos fatos. Por exemplo, Mauá é apresentado como alguém que fracassou na sua tentativa de reproduzir aqui no Brasil o modelo de empresa que teve sucesso nos Estados Unidos - mas, não se detalha que o problema foi político, mais do que algum problema de técnica de Administração ou falta de espírito empreendedor.

Outro exemplo comum é que praticamente nenhum aluno sabe dizer em qual tipo de empresa não é necessária a contratação de um contador já que muitas tarefas de obrigação fiscal e tributária podem ser exercidas pelo administrador sem nenhum problema.

Mais um exemplo é o de que a atividade de Auditoria administrativa é muito importante e rentável para administradores, mas que é exercida por muitas outras profissões. Isso em desobediência às delimitações da profissão constantes dos documentos do Conselho Federal de Administração, que não age para defender a profissão - sua fiscalização é péssima e é difícil ter alguma resposta do CFA. Já são 2 anos que aguardo a resposta para a criação de um grupo de trabalho direcionado para Auditoria. Pelo que entendi o CFA não tem interesse em defender atividades da profissão que não estejam alinhadas com alguma estratégia desconhecida.

Por exemplo, na avaliação de valor de empresa é comum que profissional de outra área afirme que ele tem a exclusividade de emitir este laudo e que o Administrador não tem a competência legal profissional para fazer esta tarefa. O CFA confirma que isso está incorreto, mas não toma atitudes claras e objetivas para a defesa da profissão.

Qual a motivação vocacional que se espera de um aluno de Administração?

Para entender a motivação vocacional do futuro administrador é preciso relembrar como os cursos de Administração surgiram no Brasil. Isso porque em outros países, a Administração é tratada como um tipo de Engenharia às vezes associada com Economia e noutras com a Engenharia de Produção.

A primeira faculdade de Administração do Brasil foi a Faculdade de Economia e Administração (FEA) na USP. Posteriormente o curso de Contabilidade foi incorporado ao nome desta faculdade. Ela nasceu dentro da Escola Politécnica pelos professores de Engenharia de Produção. Foi fundada pelo diretor daquela faculdade. O motivo dessa origem é que a área de Produção tem ligação direta com o nascimento da Administração como ciência, pelo livro Administração Científica (Frederick Winslow Taylor), em 1911. Sua ideia central é a racionalização do trabalho - voltado para aumento da produtividade e no contexto do desenvolvimento da Revolução Industrial do final do século XIX. Posteriormente, outros cientistas acrescentaram ao que seria chamada de Ciência da Administração aspectos relativos aos recursos humanos, finanças e outros. Saiba mais sobre o nascimento da Administração neste resumo, mas note bem que aquilo evoluiu muito nos últimos 112 anos...

Seguindo esta linha, o curso de Administração que iniciei em 1978 tinha forte carga de matemática (até Cálculo IV) e hoje pelo que vejo algumas escolas mantém somente até o Cálculo II. Mas, na minha vida profissional atuando em Bancos, na área de estratégia, usei muito os conhecimentos destas matérias suprimidas.

Neste raciocínio, é de se esperar que o aspirante a Administrador tenha como motivação pessoal o desejo de fazer uma empresa funcionar, mais do que estudar algo que não seja específico de um setor econômico ou como trampolim para um concurso público (que não tem nada a haver com a Administração. O único curso de Administração Pública do país que tenho notícia era o da USP e que foi desativado por falta de alunos e tinha o foco em formar Administradores para gestão pública.

O que vai além de ser Administrador no contexto atual

Então, observando que o Administrador atual é formado para atuar em empresas (tipicamente de grande porte), como empregado - já que sua formação para o empreendedorismo é fraca, para quê serve o Administrador na economia?

Meu entendimento é que ele serve para que outros profissionais atuem nas suas empresas tendo um responsável pelas tarefas típicas desta profissão.

A falta de apoio do Conselho Federal de Administração para a formação do meu grupo de interesse em Auditoria é uma demonstração de que nada além disso é entendido como relevante, embora um grupo de administradores de imóveis seja considerado importante a ponto do grupo existir (ainda). Mas, veja bem: é um grupo voltado para empresas de apoio administrativo (administradoras de condomínios, por exemplo), não para os síndicos ou gerentes deste tipo de cliente.

Por outro lado, no momento atual (metade de 2023), há notícias de que a quantidade de empresas fechando, se encaminhando para a Recuperação Judicial ou até mesmo a falência, é enorme.

Notadamente, para a Recuperação Judicial é comum que um advogado seja nomeado como o gestor pelo juiz - raramente é um Administrador. E, o que o advogado aprende sobre Administração? Nada.

E, aí vem a pergunta: quanto que os alunos de curso de Administração sabem sobre a recuperação de algum negócio? Nada. Não é aumentando vendas que se salva uma empresa. Nem quitando dívidas. É um conjunto de ações que é de total desconhecimento dos programas de curso.

Concluindo

Não sei para onde vai o curso de Administração, mas já está na hora de rever o que é a Administração, principalmente no momento atual em que os interesses internacionais estão declaradamente interessados em não permitir o desenvolvimento do país - colocando o Brasil em um engessamento total. Desde 2003, a desindustrialização do país já é notada. E, a partir de 2023 já se observa a política de desestímulo à produção agrícola.

Um novo curso de Administração é necessário - só não sei para administrar o quê ainda...













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Relatório de Auditoria Administrativa para prestação de contas anual, preventiva ou retroativa.

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